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Expansão da suinocultura na região Oeste do Paraná impõe desafios

Expansão da suinocultura na região Oeste do Paraná impõe desafios


O Paraná celebra números expressivos na pecuária. A produção paranaense de proteína animal somou R$35 bilhões, de acordo com o ranking do Valor Bruto de Produção (VBP), que considerou o período entre julho de 2019 e junho de 2020. Entre os 10 municípios com maior representatividade estão quatro da região Oeste: Toledo (1º) seguido por Cascavel (2º), Marechal Cândido Rondon (5º) e Assis Chateaubriand (7º). Os aspectos econômicos positivos relacionados ao setor esbarram em um grande dilema: o que fazer com os resíduos provenientes da produção pecuária?

Os dejetos das aves de corte têm valor comercial, além da possibilidade de armazenamento de lotes em sequência, sem a necessidade de trocar a cama dos animais. Os excrementos dos bovinos leiteiros, com poucas exceções, não são um desafio para os produtores, uma vez que a quantidade acumulada é baixa. O maior problema é gerado pelos dejetos de suínos de corte. Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), um suíno em terminação pode produzir 7 litros de dejetos por dia, porcas em lactação até 27 litros por dia e os leitões desmamados por volta de 1,4 litros por dia.

O gritante passivo ambiental tem perspectiva de aumento com a instalação de dois novos frigoríficos para o abate de 20 mil suínos por dia, em um raio menor que 50 quilômetros. “O crescimento não é pulverizado: está no entorno dos novos frigoríficos, que não é tão distante dos locais onde já existe a produção. Portanto, não há a perspectiva apenas de crescimento no número de produtores, mas também nessa escala de produção”, destaca Rafael González, diretor-presidente do CIBiogás (Centro Internacional de Energias Renováveis).

Para o abate de um único suíno são necessários, em média, outros 165 animais, considerando o período de gestação, crechário e terminação, ou seja, deverão ser alojados em torno de 3,3 milhões de animais a mais na região. Considerando uma produção média de 8,6 litros de dejetos por animal por dia, seriam aportados 28,3 milhões de litros de excrementos de suínos, considerando apenas a implantação dos dois novos frigoríficos, sem levar em conta a expansão estimada em 30% do plantel já instalado e a expansão dos frigoríficos que já se encontram em operação.

Segundo Rafael González, é preciso aliar a evolução às soluções sustentáveis. “Para que o crescimento possa continuar de forma acelerada, há três vertentes importantes: a necessidade de água, já que é preciso ter um consumo consciente; os dejetos, que, se não bem cuidados, poluem a água e o solo, prejudicando o ciclo todo; e, por fim, tem a energia. A partir desses três pontos, há a necessidade da construção de uma visão mais sustentável para o tratamento adequado desses resíduos, utilizando-os, inclusive, para geração de energia”.
 
Entre as soluções apontadas está o biogás, biocombustível produzido a partir da decomposição de materiais orgânicos, inclusive dos dejetos de suínos. A região já conta com alternativas de geração de energia a partir do produto, porém, são necessários esforços do poder público e privado para que as iniciativas possam ser replicadas. “O sistema produtivo será cada vez mais cobrado no quesito sustentabilidade, então, quando transformamos o passivo ambiental em um ativo energético, conseguimos utilizá-lo de várias formas: energia elétrica, energia térmica, energia veicular, ou seja, criar um processo de descarbonização na região em que essa produção acontece. Isso pode ajudar muito a região, com um ciclo econômico que pode ser estruturado pelo biogás, formando uma nova cadeia produtiva”, finaliza Rafael González.