Com a escassez de chuvas nos últimos anos, a discussão sobre segurança hídrica versus produção de energia elétrica tem se tornado cada vez mais relevante, dado o impacto que o problema pode gerar. Vivemos uma crise hídrica, isso é fato. Dono do maior potencial hídrico do planeta, o Brasil corre o risco de, nos próximos anos, sofrer com desabastecimento de água em mais da metade dos municípios. E se falta de água para o consumo também falta para a geração de energia.
O apagão enfrentado no Amapá, recentemente, mostra que a dificuldade está mais próxima do que se imagina. O caos em que o estado se transformou em poucos dias, apenas reforçou a importância da valorização de gerações alternativas de energia, entre elas o biogás.
Estudo do Instituto Escolhas produzido em parceria com o CIBiogás mostra que a realidade no Estado poderia ser diferente. Com políticas incentivando a energia local, o Amapá poderia gerar 15 milhões de metros cúbico de biogás por ano, a partir de resíduos sólidos urbanos e dos rejeitos da piscicultura. Isso seria o suficiente para gerar cerca de 31.136 MWh de energia elétrica e abastecer quase 11.800 residências ou 50 mil pessoas – o que equivale à população de Laranjal do Jari, terceira maior do Estado. Poderia também ser utilizado pelas indústrias locais, como as do peixe e açaí, evitando que sua produção fosse perdida pela falta de refrigeração – triste cenário que se repetiu em vários locais.
O biogás, especificamente, pelo fato de poder ser gerado de forma contínua, é diferente da energia eólica ou solar. É possível estocá-lo a custos baixos, seja na forma de matéria-prima, seja como gás comprimido. Além disso, devido à sua estabilidade, pode atuar como mecanismo regulador da intermitência dessas outras fontes.
O futuro é bastante desafiador e os acontecimentos recentes demonstram que a resposta precisa ser rápida, e o biogás está pronto para deixar de ser coadjuvante e assumir um dos papéis principais na questão energética do país.